Existem dias onde o que menos queremos é sair de casa. Só a sensação de termos que enfrentar o mundo, suas complexidades e competições, nos arrepia a alma como se tivéssemos diante do mais tenebroso filme de terror. E então, o conforto do lar torna-se a saída mais segura.
Caminhamos pelos cômodos como se desejássemos reconhecer nosso próprio habitat, encontrar um pouco de nós entre móveis aparentemente indiferentes e sisudos.
Livros são reabertos, e fotos de um passado que nunca parece ter existido complementam a delícia de saborear a própria vida em doses suaves de observação.
A estante permanece no mesmo lugar em que deixamos, mas o conteúdo que esta guarda nos parece alheios e reveladores. Cartas, mensagens de saudade, amizade, esperança e amor... Histórias guardadas em caixas de segredos. Palavras preservadas para serem revividas em um futuro distante, mas que nunca perderão o poder de deixar a relação tempo e espaço sem sentido.
Algo em nós fica mais sensível quando paramos e abraçamos nossas vidas em toda a sua magnitude. A pele sente com mais propriedade o carinho do vento, e reagimos com mais sinceridade aos sorrisos que nos são dados.
Os quadros na sala já não possuem a mesma vivacidade na pintura, mas as pessoas que em nossas imaginações os habitavam continuam as mesmas. E seguramos nossos impulsos para não acenarmos a eles e todos nos chamarem de loucos. Isso porque é difícil admitir que, quando éramos crianças, até mesmo os objetos possuíam mais vida. E os quadros abrigavam personagens e histórias que só a imaginação é capaz de criar.
Isso nos instiga a pensar no quê mais esquecemos pelo caminho. Quantas de nossas versões serão descobertas em reencontros com antigos amigos, ao relermos textos, ao sentirmos perfumes.
E entre tantos pensamentos, e conclusões com validades curtas, nossas energias parecem recarregadas, graças à exclusiva capacidade do homem, de agradecer em uma prece silenciosa, a vida que possui.
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